Todas as Manhãs
Todas as manhãs acoito sonhos
e acalento entre a unha e a carne
uma agudíssima dor.
Todas as manhãs tenho os punhos
sangrando e dormentes
tal é a minha lida
cavando, cavando torrões de terra,
até lá, onde os homens enterram
a esperança roubada de outros homens.
Todas as manhãs junto ao nascente dia
ouço a minha voz-banzo,
âncora dos navios de nossa memória.
E acredito, acredito sim
que os nossos sonhos protegidos
pelos lençóis da noite
ao se abrirem um a um
no varal de um novo tempo
escorrem as nossas lágrimas
fertilizando toda a terra
onde negras sementes resistem
reamanhecendo esperanças em nós.
Conceição Evaristo in ‘Poemas da Recordação e Outros Movimentos’ (Editora Nandyala)
mariluz dos anjos
/ 21 de novembro de 2017A dor e a memória desta dor ritualizada em versos. Magnífico.
Tayná Coelho
/ 21 de novembro de 2017CONCEIÇÃO ARRASA DEMAIS!
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