A Piedade
Eu urrava nos poliedros da Justiça meu momento abatido na extrema
paliçada
os professores falavam da vontade de dominar e da luta pela vida
as senhoras católicas são piedosas
os comunistas são piedosos
os comerciantes são piedosos
só eu não sou piedoso
se eu fosse piedoso meu sexo seria dócil e só se ergueria aos
sábados à noite
eu seria um bom filho meus colegas me chamariam cu-de-ferro e me
fariam perguntas: por que navio boia? Por que prego afunda?
eu deixaria proliferar uma úlcera e admiraria as estátuas de
fortes dentaduras
iria a bailes onde eu não poderia levar meus amigos pederastas ou
barbudos
eu me universalizaria no senso comum e eles diriam que tenho
todas as virtudes
eu não sou piedoso
eu nunca poderei ser piedoso
meus olhos retinem e tingem-se de verde
Os arranha-céus de carniça se decompõem nos pavimentos
Os adolescentes nas escolas bufam como cadelas asfixiadas
arcanjos de enxofre bombardeiam o horizonte através dos meus sonhos
Roberto Piva in ‘Um Estrangeiro na Legião’ (Editora Globo)
foureaux
/ 24 de setembro de 2016Piva… Um dos poetas brasileiros cuja poesia anda não conheço direito… Parece que, se procurar conhecer, vou gostar! Bom final de semana!
Valnikson Viana
/ 6 de novembro de 2016Piva é fascinante! Fico feliz que tenha o aguçado a conhecê-lo melhor. Abração! :)
CULTURA E INFORMAÇÕES
/ 24 de setembro de 2016A poesia é o vinho da alma, nos embriaga sem fazer mal ao corpo.
Valnikson Viana
/ 6 de novembro de 2016Poesia é tudo! Grande abraço!
Jorge Sasgarante
/ 24 de setembro de 2016muito massa! o/
Valnikson Viana
/ 6 de novembro de 2016Piva merece estar aqui! Abração!